quarta-feira, 24 de março de 2010

Ereira assinalou ontem os 25 anos na categoria de Freguesia

Era a noite da passagem de ano de 1984. Ouviam-se foguetes. Não os da festa da entrada do novo ano, mas os que anunciavam que finalmente a Ereira, no concelho de Montemor-o-Velho, ascendia à categoria de freguesia. Não era sem tempo, pensariam os populares, que travaram uma árdua luta durante mais de 60 anos. Ontem, 25 anos depois, recordaram-se os nomes, as batalhas travadas e todo um processo complicado que culminou com a separação da freguesia de Verride e a consequente autonomia administrativa.
A sede do clube da terra encheu ontem de populares. Uns recordando a luta que começou ainda Portugal vivia em ditadura, outros, mais novos, que sempre conheceram a Ereira como uma das freguesias do concelho de Montemor-o-Velho. Todos celebraram a data que «o verdadeiro ereirense jamais esquecerá, tal foi o desejo e a luta», recordou Fernando Curto, actual presidente da Junta de Freguesia da Ereira. «Os ereirenses não baixaram os braços e o sonho tornou-se realidade», disse o autarca, recordando que a luta, que só conheceu um final feliz em 1984, começou muito antes, no tempo de Salazar, mas o poder político instalado sempre impediu a progressão do processo que os ereirense ambicionavam concretizar. «Foram muitas lutas reprimidas pelo regime», recordou Fernando Curto.
Pinto Correia, na altura presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, foi um dos elementos activos na concretização da ambição de separar Ereira de Verride, assim como a sua esposa, Ângela Pinto Correia, então deputada na Assembleia da República. Ontem até brincou com a situação e lembrou que nesta altura de Inverno era frequente a Ereira estar cercada de água por todos os lados, transformada numa ilha. «Tinha um rio que a separava de Verride», logo, «porque não haveria de ser independente?», questionou, recordando que esta era também a forma de pensar de Afonso Duarte, poeta e pedagogo natural da Ereira.
«Tive a felicidade de ajudar a que esta belíssima terra hoje fosse uma terra de grande valor onde as suas gentes só dependem delas», acrescentou o antigo presidente, referindo o «progresso» e o «espaço» que a Ereira conquistou ao longo dos seus 25 anos na categoria de freguesia.

Uma Ereira bem diferente
Um quarto de século passado e o actual presidente da Junta de Freguesia não hesita em considerar que a «hoje a Ereira não é mais a Ereira de homens e mulheres que viviam martirizados pelas cheias». Elas ainda existem, é certo, mas há, acima de tudo, uma nova dinâmica na freguesia que é para continuar. Por isso «nesta época de sentimentos, até gostaria que o presidente da Câmara ajudasse na conclusão do parque de lazer», disse, dirigindo-se a Luís Leal que, mais do que anunciar o apoio, preferiu dizer que há muito mais a fazer. «Vamos ao trabalho porque vamos honrar o passado», considerou o autarca de Montemor.
Falando no passado, no presente e no futuro da freguesia, e tomando como exemplo a luta das populações, Luís Leal recordou a importância do poder local, que «é feito pelas pessoas, pela sua forma de estar e pelo seu querer».
«Que o exemplo da Ereira seja tomado a nível nacional», disse ainda o autarca, criticando a vontade da Administração Central em acabar com as freguesias de pequena dimensão e destacando a «coragem e vontade» dos ereirenses, que com o seu contributo desenvolvem o «Portugal rural».
A sessão solene que ontem decorreu na sede da Associação Cultural, Desportiva e Social da Ereira foi o ponto alto da festa que incluiu, também, uma missa solene, um desfile associativo, o hastear da nova bandeira e a homenagem a todos os executivos da junta.

Escrito por Margarida Alvarinhas
In http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=5591&Itemid=114

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