quinta-feira, 29 de julho de 2010

Acidente fatal

Homem morreu soterrado em vala de saneamento

Trabalhador de empresa de Oliveira do Hospital, morreu ontem de manhã, vítima de acidente de trabalho, em Seixo de Gatões

O acidente aconteceu ontem, pouco depois das 9h00, cerca de uma hora depois de os trabalhadores da empresa Ernesto Alves Pinto, responsável pelas obras de saneamento em Seixo de Gatões, concelho de Montemor-o-Velho, terem “pegado” ao trabalho. O escoramento da vala, com uma profundidade de cerca de quatro metros, “falhou” e os terrenos arenosos rapidamente invadiram o espaço, “sepultando” o trabalhador, de 36 anos, que procedia à medição do alinhamento dos terrenos.
De acordo com Licínio Serrano, segundo comandante da corporação de Bombeiros de Montemor, o alerta foi dado por volta das 9h30 e «quando chegámos ao local do acidente a vítima estava soterrada, sem sinais vitais», apresentando praticamente todo o corpo, até aos membros superiores, “enterrado”. Uma das pernas terá ficado presa numa régua de medição, facto que criou dificuldades acrescidas ao resgate, disse ainda aquele operacional, que comandou as operações no terreno, que se prolongaram ao longo de três horas. «Foi uma operação muito delicada», sublinha Licínio Serrano, tendo em conta a especificidade do terreno. «A terra estava sempre a cair e, à medida que conseguíamos retirar areia, tínhamos de proceder ao necessário escoramento, no sentido de evitar nova derrocada», esclareceu.
«Aconteceu em milésimos de segundo», disse ao Diário de Coimbra o presidente da Junta de Freguesia de Seixo de Gatões, que chegou ao local cerca das 10h00, quando os bombeiros procediam à operação de remoção das terras.
O acidente ocorreu num ramal, a cerca de 70 metros da via principal da localidade, e a 300 metros do cemitério. Segundo José Manuel Marques Madaleno, presidente da Junta de Freguesia, no local encontrar-se-iam dois trabalhadores. Um conseguiu sair a tempo da vala, mas o outro acabou por ser “engolido” pelos terrenos arenosos. O autarca sublinha que a vala estava escorada e, de acordo com informações que recolheu, o acidente terá sido motivado por um “derrame” que se fez sentir na parte inferior do escoramento. «É uma zona de terrenos arenosos», explica José Madaleno, admitindo que a “enxurrada” de areia que invadiu a vala tenha “trilhado” o trabalhador, mas, a cedência da estrutura, acabaria por levar à queda de terra também pela parte superior.

Acidente lamentável
José Manuel Madaleno lamenta o incidente e faz notar o efeito que teve na população, uma vez que aconteceu a cerca de 10 metros de uma zona de habitações. Mas não acredita em negligência. «Eles são profissionais e têm de saber o que fazem», afirma o autarca, lembrando que a mesma empresa, com sede em Venda de Galizes, Oliveira do Hospital, anda há um ano a fazer a obra de saneamento na freguesia. «Já fizeram quilómetros e quilómetros de saneamento, em zonas muito mais complicadas». Refere, a propósito, uma zona com muitas linhas de água, onde «se escavava um metro e a água formava uma grua» e «nada aconteceu». Aqui, «onde nunca se pensaria que alguma coisa pudesse correr mal é que aconteceu o acidente», diz ainda ao autarca, que também diz não acreditar que os trabalhadores se sujeitassem a «correr riscos desnecessários». Lamentando a situação e especialmente a «perda de uma vida», José Madaleno considera que se tratou de um «acidente» que «nada fazia prever».
A GNR de Montemor-o-Velho deslocou para o local duas patrulhas, que procederam à recolha de dados e participaram a ocorrência ao Ministério Público e à Autoridade para as Condições de Trabalho, a quem compete definir as diligências a realizar. Em Seixo de Gatões esteve também a equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação da Figueira da Foz, que confirmou o óbito. O corpo do trabalhador foi encaminhado para o Instituo de Medicina Legal, onde vai ser submetido a autópsia.

Vítima mortal é de Nogueira do Cravo
Abílio Gomes, de 36 anos, residente em Nogueira do Cravo, Oliveira do Hospital, foi a vítima mortal do acidente de trabalho registado ontem de manhã em Seixo de Gatões. Trabalhava há três anos na empresa Ernesto Alves Pinto, que o considerava «um bom trabalhador, responsável e inserido numa equipa responsável», que ainda recentemente, em Maio/Junho, frequentou uma acção de formação na área da segurança que, de resto, constitui uma «preocupação da empresa», com sede na localidade de Venda de Galizes, freguesia de Nogueira do Cravo. A empresa Ernesto Alves Pinto lamenta o acidente, que vitimou «uma pessoa que nos é próxima, cuja família conhecemos», e «partilha a dor e o sofrimento da família».
O esclarecimento do que aconteceu ontem nas obras de Seixo de Gatões é também um objectivo da empresa de Nogueira do Cravo, que trabalha na área da construção civil e obras públicas há 38 anos e possui 43 trabalhadores. «Ontem não foi possível esclarecer, junto dos trabalhadores, passo a passo o que aconteceu, não havia condições», disse ainda fonte da empresa ao Diário de Coimbra, garantindo que esta diligência vai ser feita assim que for possível, no âmbito de um processo de averiguação interna.

Escrito por Manuela Ventura
In http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=8334&Itemid=135

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