Médicos estão, alegadamente, a ser ameaçados com processos disciplinares e processos-crime para não passarem credenciais destinadas ao transporte em ambulância dos bombeiros
Os bombeiros portugueses estão a preparar uma «pseudo-greve» de 24 horas ao transporte de doentes programados, com excepção aos casos de hemodiálise e oncológicos, anunciou ontem Jaime Soares, na cerimónia dos 78 anos dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Velho. Para 1 de Março, em Alverca, está marcada uma reunião com a Federação Nacional dos Bombeiros, na qual é esperada a participação das várias corporações do país para definir a estratégia da paralisação, que surge na sequência de alegadas pressões de uma unidade local de saúde sobre os médicos que passem credenciais para transportes em ambulância dos bombeiros.
Jaime Soares, sem especificar a origem do caso, garante que há profissionais de saúde a sofrerem ameaças de «processo disciplinar» e até «processo-crime» se encaminharem os doentes para os serviços dos bombeiros.
«É uma postura que altera em tudo o que está contemplado nos acordos entre a Liga e o Ministério da Saúde», criticou, acrescentando que a tutela está agir «por trás da cortina», através das unidades locais de saúde. De acordo com o presidente da Federação Distrital de Coimbra, o que se pretende é que os utentes recorram aos transportes públicos, com ressalva para os casos em que é necessária a maca, perdendo-se o direito ao tratamento «humanizado» dos bombeiros, lamentou, sem esquecer que, em certos pontos do país, nem sempre é fácil aceder ao autocarro ou ao táxi, especialmente durante a noite.
«Deixa-se para os outros o rosbife e para os bombeiros o osso», criticou, não só preocupado com «a qualidade de vida dos cidadãos», mas reconhecendo que, perdendo os transportes, as corporações terão de proceder ao «despedimento de centenas de bombeiros e encostar muitas ambulâncias».
Na opinião de Jaime Soares, a «tendência economicista em relação à saúde» revelada pelo Ministério vai trazer «prejuízos» às populações, que vão pensar que são os bombeiros que lhes estão a criar dificuldades». Por outro lado, quando estiverem perante um pedido de ajuda de um doente, «os bombeiros não vão deixar de fazer o transporte, mas vão começar a acumular prejuízos», lamentou.
Perto de 500 mil euros em quatro anos
No dia em que foi inaugurada a ambulância, que custou à Câmara Municipal de Montemor-o-Velho 24 mil euros e será colocada ao serviço da 2.ª companhia de Arazede, Luís Leal defende que «há coisas que têm de ser mudadas e melhoradas» nos bombeiros, nomeadamente ao nível de transportes, que, na sua opinião, não deveriam ser pagos.
Depois de Armindo Mota, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Velho, ter recordado que a autarquia doou à corporação, entre 2006 e 2010, 485 mil euros, Luís Leal garantiu ainda que o fardamento dos estagiários ficará ao encargo do município, que aprovou também, recentemente, um subsídio mensal de 4750 euros para despesas correntes em matérias de protecção civil.
Na sessão, o representante da Liga dos Bombeiros adiantou que está programada para amanhã uma reunião com o secretário de Estado da Protecção Civil e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses no sentido de se «corrigir» alguns pontos mais polémicos ao nível da legislação.
Morais Jorge deixa comando ao fim de 26 anos
As comemorações do 78.o aniversário dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Velho ficaram marcadas pela despedida do comandante Morais Jorge das funções de comandante e a passagem ao quadro de honra da corporação. O pedido está feito, falta apenas o despacho superior, que deverá chegar durante esta semana.
Com 28 anos de bombeiro e 26 de comandante, Morais Jorge atingia o limite de idade, apenas em Outubro, mas considerou que o aniversário seria «o momento apropriado» para se despedir, para permitir a renovação do comando, sendo praticamente certo que o seu sucessor deverá sair do actual corpo dos bombeiros de Montemor. O actual segundo comandante Licínio Serrano é uma das mais fortes possibilidades.
A Morais Jorge ficam, indissociavelmente, ligadas a construção do quartel-sede e a criação da 4.a secção de Arazede (actualmente 2.a companhia).
«É meu dever sublinhar que a qualidade do trabalho desenvolvido se deveu à generosidade, competência, mas, sobretudo, ao espírito de missão da grande equipa constituída por homens e mulheres que serviram sob o meu comando», adiantou, com «honra e orgulho».
Com a missão cumprida e «convicto de tudo ter feito, ao longo de 26 anos para ajudar os concidadãos», Morais Jorge garante que não o vão ouvir dizer que se vai embora: «Vou andar por aí», garante, concluindo que podem contar com ele para a formação e operações internas.
Na sessão de ontem, o comandante montemorense foi condecorado com a medalha de ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses e a medalha de mérito humanitário da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho.
Escrito por Patrícia Isabel Silva
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