segunda-feira, 6 de julho de 2009

“Desafinação” ameaça filarmónica de Verride

Um grupo de músicos da Associação Filarmónica União Verridense (AFUV) tem um compasso diferente da direcção. Desacertos que datam do ano passado e têm vindo a subir de tom. Nos últimos dias a sintonia parece ter-se arredado definitivamente da filarmónica, que no mês passado festejou os seus 201 anos. Amanhã, realiza-se uma assembleia-geral extraordinária, “marcada” por um grupo de músicos e sócios que não “afinam” de acordo com o diapasão da direcção.
A convocatória, assinada pelo presidente da mesa da Assembleia-Geral chegou a casa dos sócios e a missiva é curta. Paulo Cardoso convoca os verridenses para uma reunião, domingo às 15h00, e da ordem de trabalhos, para além do período e antes da ordem do dia, faz parte um único ponto, que consiste na «apresentação e votação de propostas de um grupo de sócios». E mais não diz.
O presidente da direcção, Carlos Carvalho, sabe da reunião e vai estar presente, mas desconhece a “sinfonia” que o grupo de sócios pretende apresentar. Trata-se, admitiu ontem ao Diário de Coimbra, de uma reunião extraordinária, convocada por um grupo de sócios, que os estatutos da colectividade prevêem. O “timoneiro” da colectividade, adianta que a assembleia foi solicitada por «40 associados», entre os «quais se encontram músicos muito jovens e outros que «entregaram as fardas».
A “desafinação” instalou-se, no entender de Carlos Carvalho, depois da demissão do maestro, decidida pela direcção. Os músicos «não gostaram e reagiram», adianta, admitindo que «um grupo de cerca de uma dezena de músicos entregou as fardas».
A demissão do maestro António José Loureiro Jesus foi decidida no quadro de um conjunto de «situações complexas que aconteceram nos dois últimos anos», afirma o presidente da direcção. Carlos Carvalho refere, como factor chave deste processo a saída do maestro adjunto, Tiago Cordeiro, que em Maio apresentou a sua demissão «em ruptura com o maestro». «Tivemos várias reuniões para tentar apaziguar a situação», diz Carlos Carvalho, mas, nos princípios de Junho, o maestro adjunto impôs um conjunto de condições para continuar «que não foram aceites pela direcção», levando Tiago Cordeiro a abandonar a Filarmónica Verridense.
Com a equipa técnica “desfalcada”, a direcção «pediu ao maestro que indicasse um novo adjunto», mas Loureiro Jesus terá optado por uma continuidade “a solo”. Decisão que não agradou à direcção, uma vez que «considera fundamental ao bom funcionamento da banda o papel do maestro adjunto», assume Carlos Carvalho. «Na sequência disto e depois de um conjunto de atitudes menos correctas por parte do maestro – que se escusa a esclarecer - , e atendendo que não tínhamos maestro adjunto, decidimos mudar de equipa técnica», diz o presidente, justificando a demissão de Loureiro Jesus, maestro que há três anos está ao serviço da filarmónica e desempenhou um papel fundamental aquando das celebrações do bicentenário.

“Músicos reagiram mal”

«Não foi uma decisão tomada de ânimo leve, contrariamente ao que as pessoas possam pensar», refere Carvalho, sublinhando que a decisão foi assumida na reunião de 18 de Junho e comunicada no dia 20 ao maestro, que «aceitou a situação e pediu para se despedir do corpo musical, o que aconteceu».
«Os músicos reagiram mal», refere ainda o presidente da direcção, e «alguns, talvez uns 10 entregaram as fardas», disse ainda ao Diário de Coimbra. Todavia, para Carlos Carvalho esta manifestação de desagrado não pode ser vista de uma forma isolada, antes concertada com um conjunto de «comportamento menos correctos» que «têm vindo a verificar-se ao longo dos últimos dois anos». Escusando-se a entrar em pormenores Carvalho refere um concerto em Santa Comba Dão, onde alguns músicos «assumiram posições menos correctas», situação que voltou a verificar-se em Mação.
«Os músicos não estão em auto-gestão», afirma Carlos Carvalho, queixando-se que «alguns começaram a fazer boicote». Aquele responsável não põe em causa o «empenhamento dos músicos, nem a sua qualidade, participação nos ensaios ou nos concertos». «São inexcedíveis», sublinha, elogiando também o trabalho desenvolvido pelo maestro Loureiro Jesus. Põe em causa, isso sim, o que qualifica de «comportamentos menos correctos», decorrentes de «falta de disciplina e rigor», que considera necessários. «Não têm apenas de saber e aprender música, também têm de aprender a saber ser e a saber estar», defende.
E terá sido isso que ditou o “descompasso” e pôs em cheque a “harmonia”. Carlos Carvalho diz menos que só aceitou recandidatar-se, em Janeiro, depois de ter obtido a garantia, por parte dos músicos, que todos iriam “afinar” pelo mesmo diapasão. «É a direcção quem manda na banda, a banda não está em auto-gestão», faz ainda questão de sublinhar.

“Turbulência está a afectar a filarmónica”


«Tínhamos consciência que a decisão de demitir o maestro poderia ter consequências», reconhece o presidente, adiantando que quando foi comunicada aos músicos, foi «mal recebida» e um pequeno grupo «sentiu-se ultrapassado». «É à direcção que compete tomar as decisões e não aos músicos», sublinha, agastado com a situação, que acabou por se agravar dias depois, no espectáculo de despedida do maestro, quando uma dezena de músicos entregou a farda.
Carlos Carvalho nega que existam músicos suspensos pela direcção, salvaguardando a excepção de um jovem, a título temporário, sublinhando que «foram os músicos que se auto-suspenderam». Reconhece que a filarmónica pode funcionar sem estes elementos, mas considera a situação «negativa» . «Esta turbulência está a afectar a filarmónica» e «já perdemos vários contratos», diz, apontando para o espectáculo da entrega dos prémios Bento Pessoa. O presidente da direcção está, também, apreensivo com a reunião de amanhã. «Esta situação não é nada agradável», diz.
O Diário de Coimbra tentou, em vão, falar com músicos “auto-suspensos”. Quanto ao maestro, confirmou a demissão, mas escusou-se a tecer quaisquer comentários sobre o assunto.

Prestígio de 201 anos tem de ser respeitado

«Ninguém pode ficar contente com o que se está a passar», disse ontem ao Diário de Coimbra um sócio da filarmónica, apelando ao «bom senso e ao diálogo». «Nada pode sobrepor-se ao prestígio e ao valor inquantificável desta filarmónica», acrescentou. «A filarmónica tem uma saída para a semana e não tem maestro», fez ainda notar, em tom crítico, temendo que as quezílias se avolumem. «Isto não é nenhuma comédia, que haja respeito», diz, apontando para os 201 anos da filarmónica, que considera «a coisa mais valiosa que Verride tem» e, por isso mesmo, «não se pode desmoronar como um baralho de cartas». «Ninguém pode estar contente com o que se está a passar», diz ainda, sugerindo a readmissão do maestro e fazendo um apelo à compreensão e ao diálogo, para que a filarmónica «se mantenha de pé».

Escrito por Manuela Ventura
In http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=2660&Itemid=112

3 comentários:

  1. O Sr. Manuel Ventura podia era explicar os músicos com que tentou contactar e fazer prova disso. Em jornalismo é o que se chama "ouvir as duas partes". O "em vão" é porque não lhe atenderam o telefone???

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  2. O Sr. Manuel Ventura podia era ter explicitado, e feito prova disso, os músicos que tentou contactar. Em jornalismo é o que se chama "ouvir as duas partes". "Em vão" quer dizer-nos que tentou contactar alguém ou que não conseguiu os contactos? Uma "cacha" depende muitas vezes das fontes e não do título em si! Mas isso digo eu que não percebo nada disto

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  3. Olá...

    Seria possível enviar-me o contacto de sr. Maestro António Manuel Loureiro de Jesus, para o seguinte email:

    susana.moco@gmail.com

    Atenciosamente

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verride.blogspot.pt