terça-feira, 26 de maio de 2009

Agricultores ponderam voltar às manifestações de rua

As manifestações de agricultores, nomeadamente do Baixo Mondego, Gândaras e Bairrada, poderão voltar às ruas já em Junho, segundo um aviso ontem lançado por Carlos Laranjeira, em Montemor-o-Velho, onde um grupo de dirigentes de cooperativas e associações de produtores entregou ao edil local, também presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Mondego, um documento reivindicativo, entretanto já enviado ao secretário de Estado Adjunto da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.
Trata-se, de acordo com o presidente da Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Mondego, de uma questão social, que afecta, não só os actuais produtores, como aqueles, especialmente os do leite, que tiveram que abandonar a actividade.
De acordo com Carlos Laranjeira, existe «uma preocupação em relação ao decréscimo do rendimento da agricultura na região Centro», a que se soma uma questão social, que se prende com o fim das pequenas explorações leiteiras até há pouco tempo existentes na zona da Gândara. Considerando que «o Baixo Mondego é um potencial que está parado há oito anos, perdendo fundos que ainda nos virão a fazer falta», o dirigente associativo lembra que o caso das Gândaras é ainda mais problemático, tendo em conta que «já perdeu mais de 100 mil produtores desde 1986».
Contextualizando, Laranjeira explicou que, após o 25 de Abril, «quando não havia leite em Lisboa», por iniciativa do então governante António Campos, foi implementada nesta zona a política de «quatro ou cinco vacas por agregado familiar».
O fim deste paradigma de produção leiteira, com o encerramento das ordenhas existentes, deu origem a um problema de subsistência das famílias, algo que o grupo de trabalho, constituído pelas diferentes associações de produtores, pretende resolver, invertendo a tendência de ver os campos agrícolas ocupados com eucaliptos.
Mas, antes, tem de vencer a avassaladora força das grandes empresas de distribuição que, acusam, «estão a delapidar o tecido produtivo nacional». Os dirigentes ontem presentes em Montemor-o-Velho acusam estas empresas de fazer “dumping” (vender abaixo do preço de produção) quando colocam no mercado arroz agulha importado a preços que oscilam entre os 47 e 49 cêntimos.
Por outro lado, o carolino estará tabelado a mais de um euro, sinal, para Laranjeira, de que «a intenção é que os consumidores não comprem o produto nacional», desafiando mesmo a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) a não ser «forte com os fracos e fraca com os fortes».
A produção de leite terá problemas semelhantes, na medida em que, segundo asseguram os dirigentes associativos, cerca de metade da produção nacional é secada para fazer leite em pó, acção que terá como objectivo, alegadamente, abrir mercado para os camiões cisterna de leite “desdobrado” ou “negro”, palavras que designam um produto de qualidade duvidosa.
A confirmação desta teoria viria das palavras de Carlos Laranjeira, que terá fotografado leite UHT à venda em lojas do grupo Sonae a 39 cêntimos o litro. «É o mesmo que dizerem: “queremos acabar convosco”», afirma, desabafando que, «como não nos podem dar um tiro na cabeça, liquidam-nos pela asfixia económica».
Todos estes factores que afectam a rentabilidade dos produtores agrícolas levam o dirigente a garantir que «em Junho vamos para rua», numa luta em que, garante, «não há, nem nunca houve bandeiras políticas». «A única bandeira que há é a da unidade», frisa, revelando ainda ir solicitar uma reunião junto da Confederação Nacional da Agricultura, no sentido de «afinar esta luta e fazer um trabalho de unidade concertada».

Fonte: http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1928&Itemid=135

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